Só na cabeça distraída e apressada do João Pedro é que o Bloco e o PSD convergem.
Se não fosse tão apressado a mandar palpites e sound bites, concluiria de forma bem diferente.
As críticas às agências de rating não são da mesma natureza. Aliás já agora a convergência na crítica é extensível às outras forças políticas.
Mas, como tentei dizer no programa:
1. As críticas às agências de rating por parte da direita no poder são hipócritas, inconsequentes e deslocadas. Ainda há bem pouco tempo criticavam os críticos das agências de rating, argumentando que elas só faziam o que lhes competia e que o governo (de Sócrates) é que não estava a fazer o que devia. Moral da história as “opiniões” das agências de rating são boas quando servem a estratégia dos partidos da direita neoliberal na oposição. São inaceitáveis, incompreensíveis e inaceitáveis, quando fazem exactamente o mesmo que sempre fizeram, mas desta vez aos que se dizem ideologicamente seus seguidores … são muito mauzinhos.
2. A crítica que faço é de natureza bem diferente. As agências de rating fazem aquilo que sempre fizeram, e muito bem, atacar empresas e países que se encontrem em situação de maior fragilidade, mas que constituam excelentes oportunidades de mercado. Por outras palavras agrava-se a sua classificação nos ratings, restringindo-lhes o acesso aos mercados financeiros e impondo-lhes taxas de juros elevadíssimas, literalmente asfixiando-os, para depois, completamente subjugados, lhes impor os “ajustamentos estruturais” (linguagem dos mercados financeiros) considerados necessários e imprescindíveis aos seus objectivos supremos: mercados livres de qualquer constrangimento. Ou seja menos Estado, livre de encargos sociais, mercado de trabalho liberalizado e desregulamentado, ataque aos sindicatos e à contratação colectiva de trabalho, atomização das relações laborais, condição essencial para despedir sem entraves, eliminar benefícios sociais, reduzir salários, e assim tornar mais apetitosas as empresas e sectores a privatizar.
3. A táctica dos neoliberais que há muito dominam o FMI, o Banco Mundial e as agências de rating que constituem, aliás, papel fundamental na sua estratégia de guerra económica pela cruzada do mercado livre levada a cabo em todo o mundo pelos seguidores de Milton Friedman, os boys de Chicago, tem sido sempre a mesma em todo o mundo. Em situações de crise económica, a sua intervenção dita de ajuda, consiste sempre em impor condições dacronianas que subjuguem inteiramente os governos às suas políticas de tábua rasa do estado social, de privatização acelerada de todos os activos ainda nacionalizados ou detidos em parte pelo governo, saldando-os ao desbarato às grandes empresas e interesses financeiros internacionais.
4. É exactamente isto que está em marcha. Por isso os ataques dos mercados financeiros à dívida pública, impondo-lhe juros incomportáveis, vão continuar, até atingir totalmente os seus objectivos. O choque económico a infligir tem de ser suficientemente forte e profundo de modo a remover qualquer resistência às chamadas terapias de choque impostas pelo FMI.
5. Por último, uma citação muito ilustrativa de um ex-funcionário do FMI que abandonou a instituição em ruptura com as suas políticas e escreveu uma carta em que a dada altura caracteriza todo o programa de ajustamento estrutural do FMI como uma forma de tortura em massa na qual “os governos e os povos que gritam de dor são forçados a ajoelharem-se perante nós [FMI], de espírito quebrado e aterrorizados e desintegrados, implorando por uma réstia de bom senso e de decência da nossa parte. Mas nós rimo-nos cruelmente nas caras deles, e a tortura continua inabalável”. (Cit, in Noami Klein, A Doutrina do Choque. Ascensão do capitalismo de desastre, Smartbook, Lisboa, 2009, p. 290)